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SUMÁRIO
O SR. JOÃO MAIA (PR-RN. Pronuncia o
seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, as cidades de
Mossoró e Martins, no Rio Grande do Norte, estão em festa neste sábado, dia 18,
comemorando o centenário de Raimundo Nonato da Silva, emérito escritor do meu
Estado. Por isso, gostaria de reproduzir aqui um texto que me foi enviado pelo
Prof. David de Medeiros Leite, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte.
Diz assim o texto:
"Raimundo Nonato da Silva, certa vez, foi cognominado sociólogo da
seca, pois 'viu de perto e contou de certo' as agruras de nosso sertão. Contou
é pouco. Em verdade ele escreveu com 'saber de experiência feito'. Memórias de
um Retirante tem ares de clássico. Comparo-o, sempre, ao Vidas Secas, do também
nordestino Graciliano Ramos. Dá cinema, teatro, novela...
Nascido na cidade serrana de Martins, aos 18 de agosto de 1907, migrou para
Mossoró, atraído pela 'cidade grande', como gostava de dizer. Fez-se engraxate.
Alfabetizado quase na adolescência, estudou na velha Escola Normal. Abraçou a
profissão de professor. Ensinou na própria Escola Normal, na União Caixeiral.
Fez périplo por várias cidades. Formou-se em Direito e galgou a magistratura.
No começo da década de sessenta, Raimundo Nonato mudou-se para o Rio de
Janeiro. A produção literária cresce. Produziu e publicou com profusão. Livros
que precisam de reedições. Mais que isso, deveriam constar nas recordações de
nossos colégios e dos exames vestibulares. São tantos e tão variados que
carecem de análise acurada. Exemplos: Quarteirão da Fome, romance; Jesuíno
Brilhante; o Cangaceiro Romântico; e Lampião em Mossoró, referências no tema
cangaço. Além do já citado Memórias de um Retirante.
Raimundo Nonato é fonte, 'e sendo fonte jorra como águas límpidas entre as
pedras e a poeira do tempo'. Valho-me desta lapidar frase do ministro Francisco
Fausto Paula de Medeiros, extraída do prefácio do livro Saudades, de autoria do
memorialista Francisco Rodrigues da Costa, por considerá-la uma bela expressão
poética que se ajusta como luva para delinear o perfil do nosso homenageado.
Raimundo Nonato era inquieto por natureza, e ficava ainda mais, relembra
Eledil, seu filho, quando setembro chegava. Queria voltar a Mossoró.
Fisicamente, claro, pois seu espírito, certamente, nunca cruzou os umbrais da
ponte construída pelo Padre Mota (é padre, é mota, é gordo e é buchudo...
bordão mossoroense que ele adorava). Missivista compulsivo, usava essa 'arma'
epistolar para não perder o contato com a cidade, com os amigos. Tinha em
Raimundo Soares de Brito um dos destinatários prediletos. Relembrava pessoas,
reclamava esquecimentos.
A rotina dos setembros nunca era alterada. Sempre estava incorporado às
festividades. Tinha, no entanto, na Sessão Magna Branca da Loja Maçônica 24 de
Junho, seu maior compromisso. Fosse como orador ou mero espectador, Raimundo
Nonato era presença infalível. É de sua autoria uma das obras mais importantes
sobre a data: História Social da Abolição em Mossoró. Na terra de Santa Luzia,
cumpria um ritual: tomava café da manhã no Mercado Central, passeava pelo
centro da cidade contemplando lugares e prédios. Sempre de terno e gravata. Não
era difícil encontrá-lo pelas ruas, conversando com circunstantes: 'Nesta casa
morou o abolicionista fulano de tal...' Explicava didaticamente e saía a
discorrer sobre a personagem.
É preciso revisitá-lo, lê-lo, estudá-lo. Ele que tanto pesquisou nossa
história, nosso povo, nossas origens. E o fazia com um amor transbordante.
Dorian Jorge Freire recomendava, aos desejosos em conhecer a história de
Mossoró, que procurassem os livros de Raimundo Nonato.
Nas comemorações de seu centenário de nascimento, a editora Sarau das Letras
resolveu relançar o seu Quarteirão da Fome, publicado originalmente em 1949.
Singela homenagem a um dos grandes nomes da literatura potiguar."
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, encerro minha fala fazendo um chamado
aos jovens do Brasil, particularmente os do Nordeste, e em especial os do Rio
Grande Nonato, para que leiam Raimundo Nonato, pois nossa consciência de
cidadãos e de produtores de história amplia-se ao conhecermos nossas origens e
ao cultivarmos nossa cultura.
Muito obrigado.
FONTE – SITE DA CÂMARA DOS DEPUTADOS
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