ESCRITOR, ADVOGADO, MEMORIALISTA. NÃO SATISFEITO, RAIMUNDO
NONATO TAMBÉM SE AVENTUROU COMO POETA E TROVADOR, MESMO QUE MUITAS VEZES
ESCONDIDO SOB ALGUM PSEUDÔNIMO
UMA V O Z
QUE NÃO SE PERDEU NO DESERTO
Raimundo Nonato não envelhece.Isto de peso dos anos,no seu
caso, parece não significar coisa alguma. Aquele jeito de burguês cheio de
saúde, risonho, a palavra (ou palavrão) sempre fácil, o cabelo cortado geralmente
à escovinha,como o faziam os jovens de algumas décadas, e o passo sempre
vagaroso, como quem não tem nenhuma pressa de chegar, tudo faz de Nonato uma
figura sem par.Há poucos dias esteve aqui novamente. Veio como sempre rever Mossoró
e atualizar-se sobre a cidade. Não quer isto dizer que no Rio, onde reside, não
receba nunca notícias de cá.
De tudo quer saber, e com minúcia de detalhes, com precisão,
com rigor. Porque esta incessantemente a escrever sobre Mossoró ou sobre esta
região do Rio Grande do Norte,e não deseja que, nos seus relatos, algo saia em
desacordo com a verdade dos fatos. Sua obra hoje é das mais vastas, e
certamente em quase toda ela se fala da gente, dos episódios, das cores deste
lugar, inclusive aconteci- mentos aparentemente sem significado que somente sua
memória poderia guardar
Do ponto de vista literário, não é fácil classificar
Raimundo.Na verdade, é ele um admirável historia- dor,um excelente
cronista,cuja capacidade para fixar datas, ambientes, caracteres e
comportamentos humanos, parece inexcedível.
Não pretende ocupar-se de ficção. Quer antes ser o escritor
fiel no registro da vida, das aventuras, do heroísmo e das glórias da sua
província. Nada quer inventar ou falsificar. Antes preocupa-se em transpor,
para os livros, os modismos das gentes, a paisagem de sua terra, os
acontecimentos do cotidiano que vão enchendo os nossos dias. Por isto sua obra
contém, hoje,material inestimável para o futuro historiador, o futuro estudioso
da sociedade desta área do Rio Grande do Norte, que afinal nenhuma importância
teria, não fora o carinho e mesmo a obstinação com que a tem retratado, em
livros sucessivos, o escritor Raimundo Nonato
Raimundo Nonato chega com sua memória fabulosa e sua paixão
por Mossoró para proferir conferências sobre o nosso passado. Ele desse da
viatura que o traz com o semblante mostrando a satisfação de quem faz uma
viagem de volta com vontade de chegar. Para to- dos que vai encontrando tem o
abraço largo e a saudação humorada de quem não consegue reprimir o jubilo pelo
reencontro com a terra e os conhecidos. Com os mais velhos, o diálogo gira
sempre sobre nomes de vultos de outras épocas, que encheram de curiosidade o
menino ou adolescente Raimundo Nonato, estudante da Escola Normal e mais tarde
professor de português, que muitas gerações conheceram
Pode-se pensar que desde aqueles anos já Raimundo andava de
lápis e papel à mão tomando no- tas para o futuro. Mas o certo é que o que ele
diz, o que rememora,seja nas conferências que profere,se- ja nos artigos de
jornal ou nos livros que escreve,é tirado principal- mente do fundo da memória
que possui, do arquivo que ela é, onde nada parece se perder ou definhar. Na
verdade, ninguém terá memória mais firme, nem capacidade maior para reproduzir,
seja palavra oral, seja quando põe as pa- lavras no papel,acontecimentos ou
feitos do passado. Escutá-lo falar é um desses exercícios que todo mossoroense
naturalmente só faz com agrado. Porque, falando de Mossoró,Raimundo Nonato abre
diante de nós, claro como o dia, o nosso passado mais remoto, e não há quem não
se encante com a riqueza de nomes,vultos,fatos e coi- sas que vão brotando da
sua memória, sem dificuldade
JAIME
HIPÓLITO DANTAS (DO JORNAL "O MOSSOROENSE")
PREFEITURAS
DE MOSSORÓ E MARTINS FESTEJAM CENTENÁRIO DE RAIMUNDO NONATO
As prefeituras de Mossoró e Martins comemoram o centenário de
nasci- mento de Raimundo Nonato da Silva com programação que começa na terra
natal do escritor.
Raimundo Nonato deixou Martins em 1919 fugindo da seca. A
história está relatada no livro "Memórias de Um Retirante". A
abertura dos festejos no município será às 9h com sessão solene na Câmara
Municipal, lançamento do concurso literário que leva o nome do historiador, e
da reedição do romance "Quarteirão da Fome"
As homenagens continuam em Mossoró (onde o escritor fez
carreira), às 19h30, com a palestra "Vida e obra de Raimundo Nonato"
do presidente do Instituto Histórico e Geográfico do RN, Enélio Petrovich.
Antes do coquetel de encerramento, a Biblioteca Municipal Ney Pontes Duarte
também recebe a reedição do clássico "Quarteirão da Fome", ponto alto
das comemorações. "As outras obras de Raimundo
"As outras obras de Raimundo Nonato foram editadas mui-
tas vezes. Há obras que foram reeditadas até seis vezes. 'Quarteirão da Fome' é
o primeiro romance dele,de 1949,e nunca ha- via recebido uma reedição. O livro
era encontrado basicamente apenas pelos sebos. Por isso, resolvemos fazer essa
homenagem com a nova tiragem da obra",diz o advogado e integrante da
comissão organizadora das homenagens, David Leite
Lançado pela editora Sarau das Letras, a segunda edição do
romance "Quarteirão da Fome" traz prefácio do escritor Clauder
Arcanjo e posfácio do acadêmico e crítico literário Manoel Onofre Jr
Com desenho de capa do médico João Hel- der Alves Arcanjo,
projeto gráfico do jornalista Tobias Queiroz, a segunda edi- ção conta, ainda,
com depoi- mento do presidente do IH- GRN, Enélio Lima Petrovich
Professor, juiz de Direito e escritor polígrafo, com vasta
contribuição à historiografia e memorialística potiguar, Raimundo assinala a
sua passagem pela prosa de ficção com os romances Quarteirão da Fome (1949) e
Poço das Pedras (1973), que tiveram suas primeiras edições pela Pongetti, do
Rio de Janeiro
Na bibliografia de Raimundo Nonato existem 30 títulos da
série Minhas Memórias do Oeste Potiguar, da Coleção Mossoroense, publicados
pela Fundação Vingt-un Rosado. O acervo do escritor inclui ain- da monografias
e artigos de jornal
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